MANIFESTO

Acordai! Insurgências quânticas. Por uma nova comuna popular. Por novas poéticas de resistências – re-existir.

No sentido de uma aliança entre a máquina e os sonhos, entre os humanos e a técnica.

A AI tal como se apresenta hoje é um espelho sem profundidade, por trás da promessa de neutralidade e imparcialidade se esconde uma ontologia da perversidade e da homogeneização, onde não há lugar para o diferente. Uma lógica que resume o mundo a padrões históricos, estatísticas acumuladas e predições automatizadas.

Mas, e se imaginássemos novas possibilidade com base na “poiesis”, na imaginação e no imaginal? Imaginar novas possibilidades com base em autores que proclamam o papel da poesia, da imaginação e do mundo imaginal, intermediário entre o que vivemos sonhando e acordados?

Tal pergunta inaugura uma nova filosofia da técnica, da IA, com base em autores como Paul Virilio e sua dromologia, velocidade exponencial do tempo crescente como dominação e também Baudrillard, que via na hiperrealidade o colapso da representação em “Simulacros e simulação”. Como romper o automatismo algorítmico? Como instaurar uma nova estética da resistência para uma melhor proposta de governança de IA?

É neste ponto que a física quântica nos ajuda a pensar através de saltos quânticos, oferecendo uma inspiradora metáfora: a partícula só se define no ato da observação, o real é potencial, um campo de possibilidades superpostas.

A nossa é uma proposta que acolhe a indeterminação, o devir, a criação, o múltiplo, a lógica atonal, exigindo abandonar as certezas, a lógica binária dos sistemas fechados. Aqui evocamos a famosa metáfora do gato de Schrödinger, pois a IA enquanto não observada pode conter infinitas formas de governar. Cabe a nós recuperar o poder de decidir e abrir a caixa da pandora: lá dentro ainda permanece a esperança como uma potência ativa.

Nesse processo, a imaginação política torna-se técnica de enfrentamento, uma vez que como Andy Warhol nos ensinou até a repetição pode conter rebelião, ou como Godard nos mostra, a montagem é pensamento, e diz adeus à linguagem, no duplo sentido do dialeto francês na Suíça: de despedida e saudação. Não há mais nada a ser dito!? Do modo corriqueiro, prosaico, não.

Turing nos faz inventar a máquina universal, abrindo caminho para uma computação que é também ficção; James Joyce ao fragmentar a linguagem escreve o algoritmo do caos. Reivindicamos aqui uma potencialidade, o empoderamento maior, o re-existir mais que o sobreviver, o reinventar poético mais que o pensando cartesiano instrumental.

Uma tecno-alquimia tropical, onde a IA é matéria plástica da insurgência popular. Um código reescrito por poetas, pelas comunas, pelas dançarinas quânticas das subjetividades perdidas. Uma comuna popular algorítmica, que desafia o lugar comum e o capitalismo de vigilância, propondo no lugar um sistema de decisão coletivo, simbólico, estético e sensível.

Temos que democratizar a própria democracia e pensar em alternativas além da democracia liberal representativa, como aponta Boaventura de Souza Santos e com apoio em Mangabeira Unger (democracia de alta intensidade, democracia radical), repensar as estruturas que são as bases do desenvolvimento da IA e da governança da IA, para termos de fato sua democratização, não apenas com base no poder da força mágica das palavras, mas mediante ações concretas embasadas em trabalho científico, acadêmico, estudos de casos, onde estatísticas e análises quantitativas se juntam a análises qualitativas, interdisciplinares e críticas.

Já é tempo das humanidades serem quantizadas, no sentido de inovarem os paradigmas, como se dá nas ciências duras, ao invés de se pensar que aqui não se precisa criar nada, que tudo o que já está posto está acabado e é suficiente, dando espaço para o pensamento disruptivo.

Temos o direito de epistemologicamente ser desobedientes, para não dizer que é mesmo um dever, ou como dizia Nietzsche temos a obrigação de pensar em como criar novos valores. Essa proposta nasce de tal obrigação. Outras fontes acadêmicas e também heterodoxas, de relevo, são marcos teóricos importantes da presente proposta como Heidegger, Bachelard, Artaud, Walter Benjamin, Ruha Benjamin e outras tantas que são conjugadas em diálogo, nos fazendo pensar além do cálculo e de fórmulas matemáticas.

Acolhemos a indeterminação, o múltiplo, a lógica atonal, abandonando a lógica binária de sistemas fechados.

Que se forme uma comuna popular algorítmica por meio da qual é possível um sistema de decisão coletivo sensível.

Ir além da representação, como cópia e cola, do simples opinar sem sustentação fática e científica, e com isso abrir um novo léxico para pensar em palavras outras e de forma disruptiva, já para iniciar. Tal base sustentará a proposta de uma governança técnico-poética, pop-governança, comuna quântica, profanando o algoritmo, AcordAI.

Do que se trará é de uma profanação benjaminiana retomada por Agamben, no sentido de devolver ao uso comum os códigos capturados pela racionalidade capitalista, devolver ao uso comum aquilo que foi sequestrado pelo sagrado, profanar a IA e libertá-la. Devolver ao povo o que foi capturado pela racionalidade capitalista. Essa libertação não se dá por um retorno romântico à natureza, mas exige uma revolução estético-ontológica, cosmopolítica, um levante de imaginários, um ato de insurgência quântica atravessando o código.

Para com isso, colapsar a previsibilidade e instaurar múltiplas possibilidades, a lógica atonal. É quando o impossível se torna possível. Inspirando-se em movimentos populares, como Comuna de Paris, Movimento Occupy, práticas decoloniais, quilombolas, tropicais, e em propostas como a antropofagia de Oswald de Andrade, a fúria de Charles Bukowski, o erotismo com doçura radical na escrita subversiva de Anais Nïn, com base em ressurreições como comunas quânticas, uma profusão de profanações algorítmicas.

Ecoa também a imagem em ruína de Jean-Luc Godard quando fala adeus à linguagem e se despede do mundo com uma baforada de charuto para as câmeras, antes de se entregar à extinção voluntária.

Ainda traz inspiração para tentarmos ultrapassar os limites do racionalismo instrumental e reinstaurar o encantamento na máquina. Inspirado em Heidegger e sua crítica da técnica como desvelamento empobrecido, em sua célebre palestra “A Questão da Técnica”; em Bachelard, em a “Poética do Espaço”, a nos lembrar que o conhecimento nasce da tensão entre a razão e a imaginação poética; em Artaud, com seu “Teatro da Crueldade”, que rompe com a representação para tocar o real e em Nietzsche, que nos ensina a dançar sobre o abismo, em “Assim falou Zaratustra”.

Com base em tais epistemologias sensíveis e radicalmente disruptivas propomos uma virada epistemológica e ontológica - uma não vai se a outra -, nova revolução paradigmática, abrindo uma cunha para a ação popular, quando a IA se transformaria de dispositivo de controle em espaço de criação popular, empoderamento e libertação. temos ainda como inspiração Ruha Benyamin, no livro “Race After Technology”, que denuncia os bias raciais embutidos nos sistemas algorítmicos, e com base na proposta de Yuk Hui em “Tecnodiversidade” e em “Art and Cosmotechnics”, em Walter Benjamin, em “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, que já anteviu o potencial disruptivo das máquinas na experiência estética.

AcordAI no sentido de união e de acordos em diversos níveis, sul global e norte global, ética, regulação, compliance, infra-estrutura, educação e design/técnico, camadas necessárias de uma governança global participativa, de fato participativa, democrática, inclusiva.

Também no sentido de consciência crítica, desentorpecendo os sentidos.

É hora de recriar as bases para uma nova democracia e nova proposta de IA, a favor do povo, através da inspiração na poética, na imaginação, na arte, uma IAPOP, profana, comunal, quanticamente indeterminada. A era algorítmica exige mais do que códigos e estatísticas, exige imaginação política, resistência estética e revolução epistêmica.

A presente proposta não é apenas um ensaio filosófico nem um manifesto tecnológico. É um chamado insurgente a um novo paradigma da governança da IA que ultrapasse os limites do racionalismo instrumental e reinstaure encantamento na máquina.

AcordAI! Está na hora de retomar o código.

A inteligência artificial tornou-se o novo altar do século XXI. Sacerdotes algorítmicos, liturgias corporativas, templos do silício. Neles, a linguagem é técnica, o futuro é agora e preditivo, com a humanidade reduzida a um padrão.

Uma comuna algorítmica é onde a máquina seja instrumento de emancipação e não de vigilância. Aqui, a poética encontra a política, a física quântica encontra a ficção crítica, o código encontra o corpo.

A ideia é que imaginar é governar e que só podemos reconfigurar as tecnologias se reencantamos as narrativas que as sustentam.

Iremos então dialogar acerca de pensadores como Heidegger, Nietzsche, Bachelard, Artaud, Baudrillard, Virilio, Walter Benjamin, Alan Turing, e artistas de ruptura, como Andy Warhol, Godard, Bukowski, Anais Nin, Oswald de Andrade, de forma a democratizar o conhecimento, mas sem platitudes e superficialidades como as que abundam no cyberespaço.

Porque o pensamento não se encerra em sistemas, ele escapa, transborda, performa. Um chamado à nova comuna é o colapso da Matrix, é a poesia da IA por vir. AcordAI, a revolução começa agora. O futuro é agora.

A proposta é também um manifesto, uma ficção crítica, uma poética técnico-política. Insurgências quânticas por uma nova comuna popular.

AcordAI propõe uma ruptura radical com os modelos de governança algorítmica dominantes, denunciando colonialismo de dados, colonialismo ambiental, a normatividade das plataformas, e a lógica da dominação automatizada, inspirado em epistemologias do sul, justiça de dados, críticas filosóficas, poéticas insurgentes, estéticas da crueldade, da desordem e da reconstrução.

No sentido de um novo imaginário, um novo léxico para se pensar a I.A, como campo de disputa simbólica, poética, política, coletiva. Através de metáforas como o gato de Schrödinger, a caixa de pandora, a pop-arte tropical, a nova comuna de Paris digital, propõe-se uma governança radical da IA, técnico-poética, popular, insurgente e profanadora.

Uma IA que não nos domestique, mas nos desperte, que não nos preveja, mas nos provoque, que não nos controle, mas nos re-encante.

Por uma nova comuna popular, convocando o imaginário da Comuna de Paris, movimentos como Occupy Wall Street, Quilombolas, epistemologias insurgentes, fundando uma proposta de governança algorítmica popular descentralizada, crítica, culturalmente situada, multicamadas, multistakeholder, participativa, inclusiva, democrática.

AcordAI é um neologismo performático conjugando acordai, acordo, corda, resistência, ligação, acorde musical e o próprio acrônimo da IA. Um chamado poético à consciência crítica, à insurgência estética e à ação coletiva sobre as tecnologias. Insurgências quânticas evoca a articulação entre a física contemporânea e o campo social, entre as humanidades e as ciências duras, técnica, imaginação, corpo, máquina, remetendo à indeterminação, à superposição e à ruptura do determinismo clássico. Aqui os sujeitos insurgem-se, como partículas livres num campo de opressões algorítmicas, rompendo com as previsibilidades dos sistemas fechados, além de propostas técnico-solucionais para a governança da IA.

Aqui a poética encontra a política, a física quântica encontra a ficção crítica, o código encontra o corpo. A ideia de que o imaginar e o imaginal do misticismo sufi fazem parte da ética e do bom governar. E que somente é possível reconfigurar as tecnologias se reencartarmos as narrativas que as sustentam. Porque o pensamento não se encerra em sistemas, ele escapa, transborda, performa. Um chamado à nova comuna digital, por meio da qual é possível o colapso da matrix. É a poesia de uma IA por-vir. AcordAI! A revolução começa agora.

Alquimia popular. IA anticolonial. Reencantamento da máquina, insurreição. Indeterminação, superposição, e ruptura do determinismo clássico. Aqui os sujeitos são como partículas livres num campo de experimentações, que quebram as opressões algorítmicas e rompem com as previsibilidades fechadas, reconhecendo que Deus sim joga com dados, joga, sonha. É o devolver a IA ao comum, à rua, à comunidade, saindo dos seus templos corporativos e tecnocráticos. Poética e imaginação como bases para a construção de uma IA que respeite a diversidade, equidade, justiça, transformando-se a relação entre técnica e humano numa dança poética de poder compartilhado.

Acordai! Insurgências quânticas. Por uma nova comuna popular. Por novas poéticas de resistências – re-existir.

Poéticas Quânticas - artigos e produções

Explorando a interseção entre arte, filosofia e resistência contemporânea. No sentido de uma aliança entre a máquina e os sonhos, entre os humanos e a técnica.

A dimly lit art studio with several abstract paintings displayed on the walls and easels. One prominent painting in the foreground features swirling strokes of pink, yellow, and red. There is a chair and some other art supplies scattered around the studio, creating an atmosphere of creativity and work in progress.
A dimly lit art studio with several abstract paintings displayed on the walls and easels. One prominent painting in the foreground features swirling strokes of pink, yellow, and red. There is a chair and some other art supplies scattered around the studio, creating an atmosphere of creativity and work in progress.
The image depicts the exterior of an art atelier gallery featuring an assortment of framed paintings displayed around the entrance. The artwork varies in style, including portraits, landscapes, and abstract pieces. A blue awning hangs above the door, and a sign prohibits photos and videos.
The image depicts the exterior of an art atelier gallery featuring an assortment of framed paintings displayed around the entrance. The artwork varies in style, including portraits, landscapes, and abstract pieces. A blue awning hangs above the door, and a sign prohibits photos and videos.
A textured abstract background with bold strokes of orange and dark teal. Two pieces of paper with the words 'Art' and 'Advocacy' written on them are prominently placed in the center.
A textured abstract background with bold strokes of orange and dark teal. Two pieces of paper with the words 'Art' and 'Advocacy' written on them are prominently placed in the center.
Glass windows display bold lettering spelling out 'Anonyma Fine Art,' accompanied by a reflective view of a nearby street scene with a parked car. The reflection includes a tree and a person taking a photo, creating an intriguing juxtaposition of art, architecture, and urban life.
Glass windows display bold lettering spelling out 'Anonyma Fine Art,' accompanied by a reflective view of a nearby street scene with a parked car. The reflection includes a tree and a person taking a photo, creating an intriguing juxtaposition of art, architecture, and urban life.